Wilson Moreira: ‘Quando vi a Portela, me apaixonei’

Compositor fala sobre seu contato com a azul e branco no final da década de 1960

Por: Redação

No final da década de 1960, Wilson Moreira, compositor iniciado nas escolas de samba de Realengo e fundador da Mocidade Independente da Padre Miguel, começava a estreitar laços com a Portela.

Com 14 anos, o sambista já frequentava os desfiles das escolas de samba na Praça Onze.”Quando vi a Portela pela primeira vez eu me apaixonei”, recorda o início de uma paixão em entrevista exclusiva ao Samba em Rede.

“A Portela era uma coisa estupenda”, afirma Wilson Moreira

De acordo com Moreira, Seu Natal da Portela – presidente da escola à época – era um frequentador assíduo da Mocidade por conta dos divertidos ensaios e rodas de sambas de terreiro que eram realizadas no local. “Um dia ele estava lá e ficou olhando o palanque dos compositores quando estavam todos cantando o meu samba. Quando eu desci, ele me disse: ‘Garoto, vem cá, você quer ir para a Portela?’ e eu falei: ‘Seu Natal, eu sou daqui da Mocidade’. E ele respondeu: ‘Se você quiser resolver, nós estaremos lá de braços abertos para você’.”

Wilson, que vivia uma relação intensa com a verde e branco de Padre Miguel, viu-se em uma situação desconfortável: preocupado em não desagradar os integrantes da agremiação, recusa o convite. O episódio lhe remete a Portela e o inspira a criar os versos de “O Mais Belo Requinte” – uma declaração de amor à escola de Madureira. Tempos depois, o músico decide deixar a Mocidade.

Sucesso e decepções

Por mais que admirasse – e fosse agradecido pelo que aprendera com a escola -, Wilson já tinha percebido que era hora de se afastar. “Houve uma confusão, fiquei aborrecido e não gostei do tratamento que me deram lá na Mocidade. Eu discordei e resolvi sair.”

Em 1968, ao se desligar da Mocidade, Moreira já se convertera portelense. “Eu tinha um amigo que era relações públicas da Portela. Encontrei com ele na cidade, a gente ia apanhar o trem pra ir pro subúrbio.” Juntos, pegaram um trem na Central do Brasil e, ao passar por Madureira, Moreira não titubeou: “Ele pulou do trem e eu pulei também.”

O batizado não poderia ter sido melhor: chegando lá, Wilson recebeu o convite de Natal da Portela para que fosse para a azul e branco. “A diretoria toda da Portela de pé me cumprimentando. Aquilo me emocionou e, poxa, foi uma coisa muito bonita. Eu não tive como dizer não”, conta.

Na ocasião, Moreira encantou a todos presentes na quadra ao cantar os versos de “O Mais Belo Requinte”, composição que marca sua entrada na história da Portela – e a entrada da Portela em sua vida. A música foi registrada pelo intérprete Avelino no álbum “Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela” (1972) e, anos mais tarde, no disco “O Partido Muito Alto de Wilson Moreira e Nei Lopes” (1985).

Moreira teve seu samba registrado no disco “GRES Portela”, de 1972

Desde então, seu reconhecimento na escola somente cresceu e a sua figura como sambista continua sendo celebrada pelos portelenses. Não à toa, o compositor dedicou diversas composições à agremiação. Moreira saúda os bambas da Velha Guarda em “Portela e Seus Encantos” e “A Brilhante Velha Guarda“, registradas nos álbuns “Peso na Balança” (1986) e “Entidades I”(2002), respectivamente.

Wilson Moreira viu de perto as mudanças pelas quais passou o Carnaval

O talento de Moreira no samba resultou em inúmeras parcerias com Antônio Alves, Monarco, Jair do Cavaquinho e Candeia – seu parceiro mais constante e com quem fundou, ao lado de outros compositores, o Grêmio Recreativo de Artes Negras e Escola de Samba Quilombo, em 1975. A agremiação  nasceu exatamente como resposta às mudanças que o Carnaval começava a apresentar.

De acordo com o sambista, Seu Natal viu a Beija-Flor de Nilópolis ganhar o Carnaval com o enredo “Sonhar com o Rei dá Leão” (1975) e ficou deslumbrado com os novos moldes de Carnaval que se apresentavam. Então, Candeia teve a ideia de fundar uma escola de samba defendesse os valores tradicionais da Carnaval.